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Duas mortes levantam dúvidas sobre a triagem nas urgências

A morte de uma mulher, anteontem à noite, no Hospital de Vila Real, na sequência de um acidente no IP4, veio relançar o debate sobre a fiabilidade do Sistema de Triagem de Manchester (STM) nas urgências hospitalares.
Julieta Gomes não apresentava ferimentos exteriores e "estava consciente e colaborante", pelo que recebeu a cor amarela - terceira numa escala de gravidade com cinco cores e que implica atendimento em menos de uma hora. Uma hemorragia interna detectada duas horas após o acidente acabaria por lhe custar a vida já no bloco operatório. É o segundo caso noticiado em dois dias - ontem o JN dava conta de uma morte em Aveiro -, mas, garantem especialistas em emergência, não põem em causa a fiabilidade do STM.

"Manchester nunca impedirá a morte de ninguém", afirmou ao JN Paulo Freitas. Director da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Amadora-Sintra, é autor de um estudo que avaliou em perto de 600 mil episódios de urgência a correspondência entre triagem, internamento e mortalidade. E garante que a percentagem de erro em Portugal - cujas urgências estão já cobertas a 90% pelo Protocolo de Manchester - é inferior aos 20% previstos em Inglaterra, onde o sistema foi criado. Entre nós é de 8% e "geralmente pela atribuição de cores de gravidade superior à que as situações merecem".

O STM, explica o médico, "é uma ferramenta de gestão de risco". Identifica-o e indica o tempo médio em que o doente tem de ser visto. Ao vermelho, situação emergente, corresponde um tempo zero. Segue-se o laranja, muito urgente, a atender em dez minutos. O amarelo é urgente e tem prazo de uma hora. O verde, com duas horas, é pouco urgente e o azul é não urgente. "É um instrumento muito poderoso de previsão de morte e de doença grave", que está "validado" internacionalmente para várias patologias, garante Paulo Freitas.

Dois por cento emergentes

"Hoje, os 2% de doentes triados como vermelhos vão imediatamente para uma sala de reanimação. Antes ficavam à espera", diz Paulo Freitas. Manchester existe para reduzir o risco de morrer pela espera, não de morrer pela doença em si". O que faz com que o maior número de mortes aconteça com casos vermelhos e laranjas. Estes representam respectivamente 2% e 17% dos casos triados, contra 50% de amarelos e 31% de verdes e azuis.

Sem comentar os casos em apreço por desconhecê-los, Paulo Freitas diz que "os serviços têm que fazer esforços para cumprir os tempos protocolados" e promover auditorias para avaliar se as pessoas estão a ser bem triadas, através do controlo de qualidade previsto no Protocolo de Manchester. O estudo que dirigiu, insiste, confirmou que o sistema "é seguríssimo" na detecção do risco de morte e doença grave.

A garantia é de que os enfermeiros encarregados da triagem "são experientes e treinados". Paulo Freitas entende que "o que falta muitas vezes é o pós-triagem", incluindo a atenção aos doentes para, se for caso disso, rever a cor inicialmente atribuída. É que, se é certo que um politraumatizado nunca é triado com menos do que a amarelo, há casos em que os doentes pioram. Situação que é, de resto, admitida pela direcção clínica do Hospital de Vila Real. "É possível que numa situação de choque as complicações venham a revelar-se mais tarde", disse Francisco Esteves. Que confirmou que o facto de a vítima estar "consciente e colaborante" fez os cuidados "recair sobre o outro ferido grave". O marido, ex-autarca de Murça, sofria de escoriações no corpo e traumatismo numa perna. Foi triado como vermelho e teve ontem alta.

Já no caso de Aveiro, a directora clínica, Lurdes Sá, admite que "pode ter havido um erro de avaliação na triagem". Uma falha que se estende ao "tempo de atendimento" anteontem, o tempo médio de espera na Urgência para a Medicina Interna rondou as oito horas, com muitos doentes com gravidade. Mas a dirigente não acredita que esse afluxo se prenda com o fecho do atendimento nocturno em centros de saúde ou de serviços de urgência vizinhos. Um argumento ontem aludido pelo bastonário em exercício da Ordem dos Médicos. "As urgências hospitalares estão a funcionar para além do limite das suas capacidades para atender os doentes com qualidade, humanidade e rapidez", escreveu José Manuel Silva, em comunicado.
Autor: José Palha Publicado em: 04-01-2008 08:32:19 (1492 Leituras, Votos 317)
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