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Fogo faz parte do ciclo ecológico

O director do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) desvaloriza os impactes ambientais do incêndio que destruiu mais de três mil hectares de área protegida. Henrique Pereira diz que “o fogo faz parte do ciclo ecológico” e não acredita que tenha havido perdas irreparáveis no parque. Prefere mesmo apontar como maior preocupação os prejuízos para a comunidade local.
No final de uma reunião de trabalho realizada ontem no Governo Civil de Viana do Castelo com técnicos ambientais e do Ministério da Agricultura, Henrique Pereira sublinhou que ainda é cedo para ter uma avaliação dos efeitos do incêndio, remetendo para a Primavera “uma noção verdadeira e real”.

“Apesar de sabermos que foi atingida a reserva integral do Ramiscal e uma parte significativa da mata do Mezio, não é possível determinar qual a dimensão com que foram atingidas as espécies animais. Há animais que poderão até beneficiar do incêndio e também teremos situações de perda, mas não acredito que venha a estar em risco a sobrevivência de alguma espécie”, referiu o director do PNPG, que tem nesta altura duas equipas de técnicos a trabalhar no terreno, para avaliar a situação em termos ambientais e sociais.

Ao nível da flora, Henrique Pereira salientou a expectativa de avançar já no próximo ano com a reflorestação da área ardida, chamando a atenção para a zona de carvalhos – uma árvore adaptada ao clima mediterrâneo e aos fogos. Mas frisou que os turistas podem continuar a visitar o Mezio, já que “metade daquela zona não ardeu”.

A preocupação maior do director do Parque Nacional são os rendimentos dos agricultores, já que a devastação da zona de pastoreios acarreta um problema grave de sobrevivência de 200 a 300 pastores. É que à volta da área do PNPG arderam outros cerca de três mil hectares de mata. Além disso, na Galiza o Verão foi igualmente devastador, pelo que o preço do feno para alimentar os animais deverá atingir níveis elevados.

Por isso, Henrique Pereira mostra-se solidário com os pedidos de ajuda dos agricultores do Soajo, apelando à ajuda do Estado numa matéria que reconhece sair da área de jurisdição do Parque Nacional.

Depois de terem visto o Governo recusar o pedido para que a Serra do Soajo fosse declarada como zona de calamidade pública, os agricultores esperam agora contar com a intervenção do governador civil do distrito de Viana, Pita Guerreiro, apesar de suspeitarem das “sucessivas reuniões inconclusivas, que servem apenas para anunciar que a situação vai ser avaliada” – como frisou ontem o presidente da Junta do Soajo, Manuel Barros.

“Há programas e linhas de financiamento do próprio Ministério da Agricultura que podem ser utilizados para ajudar os pastores que ficaram sem alimento para os animais, e é essa possibilidade que vamos explorar”, prometeu ontem Pita Guerreiro, recusando adiantar qualquer perspectiva sobre os montantes que estarão em causa.

O governador civil defendeu que, “primeiro, é preciso fazer uma avaliação exaustiva do número de pastores afectados e do número de cabeças de gado”. Esses dados só serão conhecidos dentro de duas semanas, altura em que, “com base na quantidade de feno que em média é necessária para cada animal, se poderá quantificar os custos das compensações”.

Pita Guerreiro esclareceu apenas que as compensações terão de ser financeiras, e não em géneros – ou feno –, como pediam os pastores. “Seria um processo logístico difícil de implementar no terreno”, justificou Pita Guerreiro.

PERFIL

Henrique Miguel Pereira, de 34 anos, casado e com dois filhos, tomou posse em Junho como director do Parque Nacional da Peneda-Gerês. É apontado como ‘homem de confiança’ do secretário de Estado do Ambiente. Ligado às ciências naturais, Henrique Pereira é professor do Instituto Superior Técnico, de Lisboa. É pós-graduado em Ciências Biológicas pela Stanford University (EUA). Tem vários artigos publicados em jornais científicos assim como capítulos em diversas obras. Nos tempos livres, gosta de jogar futebol, fotografar e filmar a natureza.

COMUNIDADE LOCAL LAMENTA PERDAS IRREPARÁVEIS

Apesar de Henrique Pereira desvalorizar as perdas ao nível do ambiente, os moradores e promotores turísticos da zona do Mezio não se mostram tão optimistas e estranham mesmo a posição do director do Parque Nacional.

“Ardeu tudo, o que sobrou é apenas os lugares de fachada e de entrada no Parque, mas o grande património desta zona está destruído”, lamentou Fátima Fernandes, do Centro Equestre do Mezio. Os trilhos de médio e longo alcance, a área das lagoas, várias brandas e, sobretudo, a reserva integral do Ramiscal – “onde nem de cavalo se podia passar” – são alguns exemplos de destruição.

O presidente da Junta do Soajo, Manuel Costa, frisa que os prejuízos no turismo são incalculáveis, mas destaca também o problema social. “Houve gado bovino e equino que morreu no fogo, os criadores de animais terão de passar a comprar toda a alimentação; e terá de ser cancelado o projecto dos semidouros de carbono e desapareceu grande parte da fonte de produção biológica, como mel”, diz o autarca.
Mário Fernandes,
Autor: José Palha Publicado em: 24-08-2006 11:51:34 (2081 Leituras, Votos 377)
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