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Bombeiros socorrem infectado sem saber |
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Uma equipa de bombeiros das Caldas da Rainha transportou ao hospital um padeiro com meningite, sem tomar as devidas precauções, por desconhecer que ele estava infectado. Quando a doença foi conhecida, ontem, 30 pessoas fizeram o rastreio e foram medicada |
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O doente, Fernando Lourenço, de 58 anos, está internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em estado grave, e a situação só não teve implicações na saúde pública e nos bombeiros porque se verificou que a meningite diagnosticada é a “bacteriana a pneumococo”, que não é transmissível (ver caixa).
O padeiro das Caldas da Rainha sentiu-se mal, na terça-feira de manhã, e foi transportado ao hospital da cidade por dois socorristas do INEM, em serviço no quartel dos bombeiros voluntários. Pedro Marques, de 30 anos, tripulante da ambulância, lamentou ontem “não ter sido informado de qualquer antecedente da vítima em relação à meningite”, pelo que ele e o colega trabalharam “protegidos só com luvas, pois apenas no hospital é que um familiar falou nesta doença”.
O socorrista apenas soube à noite, por uma comunicação da central de bombeiros, que teria de tomar medicação no hospital como precaução. “Fiquei preocupado porque tocámos na vítima, para transportá-la para a maca, e só muitas horas depois fomos avisados para fazer profilaxia, após ter passado o resto do dia em contacto com outras pessoas.”
SUSTO E ALARMISMOS
Vítor Santos, de 40 anos, o outro socorrista, também se manifestou “assustado” com a situação, afirmando “desconhecer as precauções nestes casos” (usar luvas e máscara). Ambos receberam tratamento, à semelhança de médicos, enfermeiros, socorristas e familiares. Quanto ao doente, está internado numa unidade de infecto-contagiosos.
Manuel Nobre, director clínico do hospital das Caldas da Rainha, diz que as medidas profilácticas foram desencadeadas dentro dos prazos de incubação da bactéria, “não se justificando qualquer alarmismo”.
RISCO CONTINUA POR RECONHECER
A falta de equipamento de protecção individual é uma das lacunas que preocupa os bombeiros e a situação é mais grave nos voluntários e municipais. Segundo Fernando Curto, presidente da Associação Nacional
de Bombeiros Profissionais (ANBP), “nalguns casos nem luvas existem e por vezes os bombeiros vêem-se forçados a mendigar equipamento, como máscaras e desinfectantes, nos hospitais”.
O presidente da ANBP defende que os bombeiros exercem uma “profissão de risco”, por estarem expostos a muitos perigos. “O nosso problema é no socorro diário.”
A mesma preocupação é partilhada por Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), que defende a criação de um serviço de saúde dos bombeiros, que preveja a realização de rastreios de despistagem de doenças.
“Não existe qualquer programa de monitorização nem de verificação, de forma a que os bombeiros possam ser, de forma periódica, avaliados na sua saúde”, explica o presidente da LBP.
Na sua opinião, os bombeiros devem ser classificados como “grupo de risco” e essa reclamação irá ser renovada no congresso do sector que ontem começou em Viseu.
EXCLUÍDAS MEDIDAS AMBIENTAIS
O delegado de Saúde das Caldas da Rainha, Jorge Nunes, explica que não foram tomadas “medidas ambientais” na panificadora onde trabalha o doente porque a bactéria não se transmite pelo contacto.
“De qualquer forma vamos lá amanhã (hoje) falar com os responsáveis e ver se eventualmente existem outros casos, o que é pouco provável. Aliás, fizemos uma vistoria há uma semana a essa empresa e estava tudo em condições.”
“A meningite bacteriana meningocócica é a mais contagiosa, mas não se confirma a sua existência e estamos descansados porque não há o perigo do contacto com outras pessoas”, diz o médico. “A meningite bacteriana pneumococos, de que o doente padece, não necessita de cuidados de quimioprofilaxia, pelo que foi suspensa a medicação que tomava.”
No entanto, o delegado de saúde considera Fernando Lourenço “um doente de risco, com uma situação de alguma gravidade, porque tem dois episódios anteriores de meningites”.
A DOENÇA
TRANSMISSÃO
A meningite causada pela bactéria ‘streptococcus pneumoniae’ não é transmitida de pessoa para pessoa. Os indivíduos em contacto próximo com alguém que tenha meningite pneumocócica não necessitam tomar antibióticos.
PODE MATAR
As bactérias que provocam a meningite pneumocócica são geralmente encontradas na garganta, mas a maioria das pessoas continua saudável. No entanto, pode causar a morte ou lesões cerebrais permanentes em casos mais complicados.
DEBILITADOS
Os indivíduos com problemas crónicos de saúde ou com o sistema imunitário enfraquecido, assim como os muito jovens ou muito velhos, apresentam maiores riscos de não resistir à doença. No caso de haver um surto da doença num meio fechado pode ponderar-se a utilização de uma vacina, aconselha a Direcção-Geral de Saúde. |
Autor: José Palha |
Publicado em: 17-11-2005 16:39:30 (4775 Leituras, Votos 332) |
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