|
|
|
Apagar fogos como em1891 |
|
simulacro Largo de Cacilhas encheu-se de gente para assistir à recriação Bombeiros mostraram como trabalhavam no século XIX e primeira metade do XX |
|
|
"Há fogo!". O grito de uma mulher de lenço na cabeça acompanhou o repicar dos sinos da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Cacilhas, Almada. Em 1891, ano em que foram fundados os Bombeiros Voluntários de Cacilhas, entre os meios disponíveis para combater as chamas estava a bomba picota e uma carroça de escada, puxada por homens. A água era transportada à mão, com a ajuda de populares, desde o chafariz público que abastecia a cidade.
A recriação histórica deste ambiente animou, ontem, a tarde chuvosa em Cacilhas. Centenas de populares assistiram ao simulacro, batendo palmas à "bravura" dos bombeiros que salvaram as vítimas de um prédio em chamas muito à custa da força de braços. "Eram estes os meios naquele tempo e todo o material utilizado faz parte do nosso espólio, incluindo as roupas", afirmou, ao JN, António Godinho, comandante dos BVC.
"Isto é maravilhoso. Não fazia a mínima ideia que era assim que se apagavam fogos naquela altura. Era muito mais difícil e perigoso", exclamava João Freire, 61 anos, que assistia ao exercício com a mulher. No Largo de Cacilhas, os cerca de 80 figurantes corriam atarefados, desenrolando mangueiras de pano e subindo escadas inseguras com destreza.
No segundo acto, alusivo ao ano de 1925, o incêndio foi combatido já com a ajuda de duas viaturas. "A Citroen foi construída pela corporação em 1933 a partir de chassis de um camião de carga de transporte de peixe. Tinham de ser os bombeiros a produzir as suas próprias viaturas", explicava o comandante enquanto decorria o exercício.
Uma figurante acenava um lenço branco num segundo andar enquanto os bombeiros preparavam o socorro. Em pouco tempo, a vítima desceu presa pelo cinto conjugado, arrancando palmas da multidão. "A intervenção era muito mais difícil e os meios mais pesados", esclareceu Carlos Pinto, dos BVC. Para João Paulo Jesus, chefe dos bombeiros, a época mais interessante é o final do século XIX, quando as distâncias eram percorridas a pé. No último cenário simulado, desfilaram viaturas já apetrechadas com escadas mecânicas.
Ficha
Agradecimento
O simulacro histórico no Largo de Cacilhas insere-se nas Festas da Nossa Senhora do Bom Sucesso. Conta a lenda que no dia do terramoto, as águas do Tejo subiram ameaçando a freguesia. Os pescadores dirigiram-se à capela e levaram a imagem da santa para junto do rio, que se acalmou. Desde então, a 1 de Novembro, uma procissão percorre as ruas em honra da santa.
Corporação
Para "proteger a população de Cacilhas dos riscos de incêndio e das calamidades", funda-se a15 de Janeiro de 1891 a Associação de Beneficência Serviço Voluntário de Incêndios, a primeira do género no concelho de Almada. Para a formação dos novos bombeiros, desloca-se a Cacilhas, duas vezes por semana, um instrutor do Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa.
Alarme
Em finais do século XIX o alarme para fogo era dado pelo sino da Igreja de Cacilhas, com um código das badaladas. Se o incêndio era em Cacilhas, soavam duas; em Almada, três; na Cova da Piedade, quatro; na Costa da Caparica, dez e no Seixal, 12 badaladas.
|
Autor: José Palha |
Publicado em: 31-10-2005 11:08:48 (1732 Leituras, Votos 280) |
|
|
|
|