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Poder destrutivo do fogo lavra na monocultura florestal |
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As bátegas grossas destes dias - transformadas ontem em ameaça de tempestade - sossegaram enfim os bombeiros que haviam regressado há uma semana ao cíclico campo de batalha florestal. E bem precisavam de tréguas os soldados da paz lusos.
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Só superado pelo ano de 2003, quando arderam 357 790 hectares de área florestal, o ano de 2005 foi superior à média do último quinquénio (2000 a 2004), que foi de 181 801 ha/ano. Até 25 de Setembro, tinham ardido 286 383 ha, devido a um total de 32 553 ocorrências (7214 incêndios e 25339 fogachos).
Ano quente e seco - o mais seco das últimas seis décadas, com 97% do território continental em situação de seca severa ou extrema na segunda quinzena de Setembro - foi propício a grandes devastações. Não só pelo número de deflagrações. Mas sobretudo pelo elevado poder destrutivo de uma pequeníssima parte deles - 1,2%!
Na verdade, bastaram 93 incêndios de grandes dimensões (mais de 500 ha) para percorrerem 200 743 ha, segundo os últimos dados "afinados" pela Direcção Geral dos Recursos Florestais, ou seja, 70% do total da área ardida. O seu poder destrutivo (2158 ha por fogo) só foi superado pelos 88 fogos de 2003 (357790 ha no total, ou 4066 ha em média cada um).
Mas, afinal, o que ardeu? Na maior parte, povoamentos florestais - 69% do total da área queimada no país e 67,7% da área percorrida pelos maiores incêndios. Quando se fala em povoamentos, fala-se das duas espécies que dominam a nossa paisagem de monocultura - o pinheiro bravo (72 556 ha destruídos) e o eucalipto (46 403 ha), segundo dados obtidos pelo JN.
Juntas, as duas espécies respondem por 118 959 ha, portanto 87,5% dos povoamentos queimados. Os povoamentos mistos atingiram 35 882 ha. As primeiras estimativas para os prejuízos com material lenhoso apontam para 241 milhões de euros só em pinheiro bravo e eucalipto.
Pinheiro e eucalipto, existentes geralmente em grandes extensões, estão aliás omnipresentes nos três maiores incêndios por área ardida - Vidual, na Pampilhosa da Serra, em 13 de Agosto, ateado por incendiário, com 19433 ha; Loriga, Seia, em 19 de Julho, atribuído a vandalismo (15837 ha); e Arrifana, Vila Nova de Poiares, em 19 de Agosto, devido ao incêndio de uma máquina de limpeza florestal (12147 ha).
A maior parte da área ardida atingiu propriedade privada (só 57 075 ha dos dados conhecidos respeitam a áreas públicas), mas nem por isso o Estado se pode isentar de responsabilidades, pois há valores que lhe estão entregues a outros níveis, especialmente com a incumbência de protecção da Natureza.
Nas áreas protegidas, 19 519 ha arderam em consequência de 681 incêndios, embora com poder destrutivo médio relativamente baixo (28,6 ha cada). A situação mais grave registou-se no Parque Natural da Serra da Estrela, onde arderam 11 202 hectares, ou seja, 57% do total da superfície queimada em áreas protegidas.
Mas, sem contar com o que terá acontecido com os novos fogos de há uma semana, também os sítios da Rede Natura 2000, que gozam de estatuto de protecção pelo seu interesse para a conservação da fauna, flora e seus habitats, foram seriamente atingidos 48 505 ha registados em 30 de Setembro.
Na contabilidade dos danos (ver também "caixa" sobre danos em habitações, construções agrícolas e indústria), não escapam as infra-estruturas. Como as de telecomunicações. Só a PT perdeu 144 mil quilómetros de fio cobre dos cabos, equivalentes a 240 vezes o comprimento de Portugal, e dez mil postes, vendo afectados 150 mil clientes e 204 antenas de operadores móveis. |
Autor: José Palha |
Publicado em: 12-10-2005 17:38:13 (1324 Leituras, Votos 264) |
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