Bombeiros Voluntários de Alcabideche




 

Fogo em barraca mata mãe e cinco filhos

Chamas na sala, junto à porta, deixaram as vítimas encurraladas e a gritar por socorro Vizinhos tentaram ajudar e acusam os bombeiros de demorar uma "eternidade"
Uma tragédia abateu-se, ontem, sobre o Bairro do Fim do Mundo, no Estoril, onde um incêndio ceifou a vida a seis pessoas, uma mulher guineense de 39 anos e cinco filhos com idades entre os cinco e os 18 anos. Despertadas do sono pela força das chamas, ainda de madrugada, clamaram por socorro, mas acabaram por perder a vida, encurraladas dentro de uma barraca, enquanto aguardavam pelos bombeiros.

Pouco passava das quatro horas da madrugada quando alguns moradores de habitações contíguas deram conta da aflição de Edina Correia e dos filhos mais velhos, a Lizandra de 18 anos, a Janice de 17 e o Carlitos de 12. Em casa, estava ainda a Susana, com 10, e o pequeno Euclides, de cinco anos.

"Não há como apagar da memória uma tragédia destas. Bem que tentámos rebentar a porta, mas foi impossível. As pessoas lá dentro a gritar e, cá fora, dezenas de pessoas às voltas da barraca a tentar encontrar uma saída. Não se compreende como é que os bombeiros demoraram mais de uma hora a chegar", criticou Rui Gomes, morador da barraca ao lado, a quem os miúdos chamavam tio e o primeiro a dar o alerta.

Um misto de dor e revolta dominou o sentimento de quem ainda vive no Fim do Mundo, onde a maioria das barracas foi reduzida a escombros depois de os seus residentes terem sido realojados. "Os bombeiros demoraram uma eternidade e trouxeram pouca água", acusou, por seu turno, Hélder Castro. Uma demora que foi, porém, desmentida pelos bombeiros (ler texto ao lado).

Os corpos das seis vítimas só foram retirados da casa pouco depois das 11 horas, um atrás de outro, em fila, rodeados por uma imensa multidão em lágrimas, chocada e ainda incrédula, por ver partir, de uma só vez, uma família inteira. Duarte Costa, primo do pai das crianças, foi o familiar mais próximo presente no local, já que Edina Correia estava separada do marido há mais de três anos. Carlos soube da morte dos filhos em Espanha, onde trabalha.

Janelas com grades

As origens do fogo estão ainda a ser apuradas e sob investigação da Polícia Judiciária. Não está posta de parte a hipótese de ter sido causado por um curto-circuito. Sabe-se, para já, que as chamas deflagraram na sala, junto à porta, deixando encurralada a família. A janela maior da casa, construída em tijolo, com cobertura de madeira e zinco, estava protegida por uma grade, o que impossibilitou a fuga. As restantes janelas eram demasiado pequenas para servirem de meio de salvação.

Inquérito interno nos bombeiros

Vários moradores do Bairro Fim do Mundo argumentavam que a tragédia se deveu ao facto de os meios de socorro terem chegado ao local do incêndio uma hora depois de ter sido dado o alerta, mas os Bombeiros Voluntários dos Estoris (a corporação que serve a zona) rejeitam as críticas. José Leite, segundo comandante daquele corpo de bombeiros, afirmou, ao JN, que irá ser realizado um inquérito interno, realçando que a primeira chamada foi recebida no quartel, via 112, por volta das cinco horas, altura em que saiu o primeiro carro. "Temos tudo registado em computador e já entregámos esses registos à Polícia Judiciária", garantiu.

O quartel dos bombeiros dista cerca de um quilómetro do bairro, trajecto que à hora a que ocorreu o incêndio foi feito "em cerca de três minutos". Este responsável acredita que as críticas dos moradores resultem apenas de uma "reacção emotiva" .

José Leite reconhece, porém, que o primeiro carro a sair dos bombeiros levava pouca água. E refere que os bombeiros enfrentaram algumas dificuldades no combate às chamas. Uma vez que os acessos são em terra batida, houve necessidade de solicitar um veículo florestal à corporação da Parede, para que pudessem aproximar-se da barraca em chamas. A determinada altura, os bombeiros ficaram sem água, uma vez que não existem bocas de incêndio no bairro. "Estivemos à espera que chegasse o carro de abastecimento, que, pelas suas características, circula mais lentamente", explicou José Leite
Autor: José Palha Publicado em: 30-09-2005 10:59:08 (8790 Leituras, Votos 291)
Fonte: JN
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