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Só as aldeias escaparam a chamas suspeitas |
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"Ali em baixo está a passar-se!" Leonor, 27 anos, corre, sempre a gritar "Ali o fogo está a passar-se!" |
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Os bombeiros, que tentam travar as chamas para lá da curva da estrada ouvem-na, finalmente. E a frente de fogo que a habitante de Freixiosa anuncia junta-se a esta, numa explosão que, às 15.00, deixa o céu negro e, em segundos, reduz a cinza e carvão mais um pedaço de mata do concelho de Mangualde.
Os bombeiros ordenam "fujam!, fujam!". Todos correm, mas Leonor volta atrás e recupera o pack de leite e dois garrafões de água, que "trouxe para os bombeiros e para quem precisar". Alguns minutos depois, as chamas abrandam, já não têm muito mais para queimar, pouco sobra dos pinheiros e giestas, com três/quatro metros de altura, que fazem a floresta da zona que divide a freguesia de Chãs de Tavares da de São João da Fresta.
"Felizmente, o vento é fraco", observa o presidente da Câmara de Mangualde. Mas "é incerto", adverte um bombeiro da corporação de Nelas. Pouco depois, numa dessas "viragens", o vento sopra de feição, bombeiros e populares aproveitam e as labaredas vão acalmando, disponibilizando homens e viaturas para enfrentarem as chamas que, pouco antes, tinham atravessado a estrada, no sentido de São João da Fresta, como avisara Leonor. "Atenção! Já está perto do aviário", avisa Carlos Manuel, presidente da junta Chãs de Tavares. Duas horas depois, o proprietário do pequeno aviário respira de alívio "Isto esteve muito perigoso".
Um contrafogo, entretanto ateado, terá sido determinante para "controlar as coisas", acreditam os bombeiros. Há quem discorde, no entanto, do momento e local onde foi lançado - mas todos, unânimes, concluem que o importante era evitar que alastrasse à densa floresta que desce para a ribeira de Ludares. Então várias povoações voltariam a ficar ameaçadas e, como na noite anterior, o pânico voltaria a terras de Mangualde.
Só na freguesia de Chãs de Tavares terão ardido, na sequência deste fogo que teve início ao final da tarde de terça feira, "mais 150 hectares", calcula o presidente da junta. Um incêndio que deflagrou quase em simultâneo com outro, numa encosta da Serra de Nossa Senhora do Bom Sucesso, "coincidência" que faz com que o presidente da câmara, Soares Marques, tenha "as maiores suspeitas", corroboradas pelos bombeiros, sobre a origem desta tragédia, que roubou ao município "milhares de hectares de floresta e mato".
"O pior aconteceu durante a noite", quando sete povoações e várias habitações tiveram as chamas à porta, recorda um septuagenário enquanto, com uma enxada, vai enterrando pequenos focos que teimam em sobreviver. "Os bombeiros fizeram o que puderam", diz uma mulher, encostada à sombra do granito de uma parede de São João da Fresta. Uma vizinha reage "Isto voltou a piorar à hora do almoço, parece que foram comer todos ao mesmo tempo." A autora da denúncia recusa identificar-se. Mas reafirma-a.
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Autor: José Palha |
Publicado em: 09-06-2005 (1433 Leituras, Votos 315) |
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