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Seca está a igualar a de 1945 |
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O território do continente atravessa a seca mais grave desde há 60 anos.O abastecimento de água a algumas populações está em risco ou já em causa e na primeira linha da crise surgem a agricultura e a pecuária. |
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Mas muito mais está em causa alguma indústria que faz uso intensivo da água, a produção energética e, por arrasto, os custos de produção de diversas actividades (ver textos na página ao lado). Os especialistas em meteorologia traçam como cenário um Verão mais quente e com menos chuva ainda.
A seca continua a agravar-se apesar dos aguaceiros de Maio. Em cerca de 17% do território registaram-se mudanças na segunda quinzena do mês, para pior ou para melhor, mas o balanço feito pela Comissão para a Seca 2005 regista que 68% de Portugal continental se encontram em seca severa e extrema, as duas classificações mais pesadas (ver infografia). Desde 1945 que não havia uma sequência de um Outono, Inverno e Primavera tão secos. O cenário para o próximo Verão não é mais optimista.
Desde há mais de um século
Em 60 anos nunca tinha chovido tão pouco entre Outubro e Junho. Mais em algumas das estações meteorológicas com registos desde 1901 esta é a situação mais grave desde então: acontece em Beja, Lisboa e S.Brás de Alportel. O Porto, Évora e Penhas Douradas seguem-se nessa diminuição drástica de precipitação no mesmo período de mais de um século.
É nas regiões do Sul que a situação assume contornos mais dramáticos desde 1945, dado que aí chove habitualmente pouco e uma redução percentual equivale a milímetros de chuva que fazem a diferença entre haver ou não abastecimento público e actividades agrícolas. Relíquias, Alvalade-Sado, Serpa, Martim Longo, Portalegre e Elvas foram as terras onde caíu menos água ao longo do presente ano hidrológico.
As percentagens de água no solo em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas é inferior a 10% em parte do Baixo Alentejo e do Algarve. No Centro e Sul é inferior a 30% e em parte da região Norte é superior a 60%.
Os caudais dos rios, em dez casos, aumentaram durante a última quinzena, particularmente no Lima e no Douro . Mas foram registadas nove variações negativas, por exemplo, no Mondego, Sado e Vouga.
Já no que toca às barragens, os volumes de água nelas armazenados recuperaram ligeiramente ( a Norte da bacia do Tejo) ou estabilizaram, o que não retira a muitas delas o deficit de enchimento em relação à média dos últimos anos. As do Mondego e do Ave são as albufeiras que apresentam uma situação mais favorável. A Sul, as do Enxoé, Roxo e Arade mantêm-se problemáticas ou mesmo interditas, quer para os usos agrícolas quer para o abastecimento público.
Noutros casos foram estabelecidas restrições ao uso industrial ou agrícola, sendo dada primazia às necessidades de abastecimento público. Há ainda situações em que está prevista a transferência de água de umas albufeiras para outras. No que se refere à barragem que mais habitantes serve (cerca de três milhões), o relatório do Inag indica que, estando Castelo do Bode a 75%, há a garantia de uma exploração normal que assegure o abastecimento às populações.
Aquíferos a descer
Problemático começa a ser também, em alguns pontos do país, o recurso às reservas subterrâneas.Segundo o relatório ontem divulgado, os principais problemas identificados pelos municípios dizem respeito ao baixo nível das águas subterrâneas (em 51 casos) e ao baixo nível das albufeiras (41 casos).
A monitorização feita indica descidas dos níveis, sendo que estes já eram mais baixos do que a média mensal dos anos anteriores nas regiões Centro e do Alentejo. Estes recursos mantêm-se em valores normais na região de Lisboa e Vale do Tejo e são até superiores à média nos aquíferos do Sotavento Algarvio. Já no Barlavento, o aquífero Querença-Silves desceu significativamente. As autoridades envolvidas na avaliação desta seca preconizam a adopção de medidas alternativas, a constar de um plano de contingência, com decisões até meados de Junho.
A inventariação das disponibilidades de água vem sendo feita e actualizada pelo Instituto da Água (Inag) e pelo Instituto de Água e Resíduos (Irar), que, em colaboração com a Associação Nacional dos Municípios Portugueses e outras entidades, têm esquematizadas alternativas para o abastecimento, no caso de falhar o principal abastecimento das populações. Os autotanques são sempre o último dos recursos.
Tanto no caso de recurso a autotanques como no de abertura de novos furos, o Irar já divulgou normas junto das entidades gestoras da distribuição de água, no sentido de serem prevenidos possíveis efeitos negativos respeitantes à qualidade. Muitos municípios começaram, a pôr em prática medidas ou a sensibilizaras populações. |
Autor: José Palha |
Publicado em: 04-06-2005 (1261 Leituras, Votos 259) |
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