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Seca altera planos de combate |
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O processo de contratação de meios aéreos de combate aos fogos florestais vai ser revisto. Os baixos níveis de água nas barragens e albufeiras – efeito directo da seca que atinge o País – põem em causa o reabastecimento das aeronaves médias e pesadas e podem obrigar o Governo a cancelar alguns concursos.
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“Teremos de encontrar outras soluções”, admitiu ontem ao ‘Correio da Manhã’ o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões. Também devido à ausência de chuva no Inverno, a época de fogos vai começar duas semanas mais cedo.
A contratação dos meios aéreos foi um dos assuntos discutidos ontem numa reunião entre o ministro da Administração Interna, António Costa, e o presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Manuel João Ribeiro. Mas, como o secretário de Estado Ascenso Simões confirmou ao CM, uma decisão final só de verá surgir na próxima semana.
Em causa estão os concursos para a contratação de 39 aeronaves: seis aviões (dois pesados e quatro médios) e 33 helicópteros (seis pesados e 27 ligeiros, cinco com tanque e dois com balde). “Estamos a estudar a adequabilidade dos meios à situação. Não podemos colocar em risco os meios aéreos, como não podemos pagar aeronaves que não serão utilizadas, devido à impossibilidade de reabastecerem em albufeiras e barragens com baixos níveis”, explicou Ascenso Simões.
Se a decisão do Governo for no sentido de anular alguns concursos, é certo que a substituição das aeronaves inadequadas por outras não será sujeita a concurso. “Não faria sentido, face às necessidades do País e à situação de urgência, abrir um novo concurso. Teremos de encontrar uma forma de resolver a situação”, adiantou o secretário de Estado. O ajuste directo poderá ser uma das formas de contornar o problema.
O carácter de “urgência” resulta da seca severa e extrema que atinge cerca de 80 por cento do território nacional, aumentando o risco de incêndios florestais. De tal modo que a época de fogos, que normalmente abre a 1 de Junho, vai ser antecipada duas semanas. “A partir de 15 de Maio vai estar de prevenção um dispositivo que engloba Grupos de Primeira Intervenção e 60 postos de vigilância do Ministério da Agricultura”, disse Ascenso Simões.
Ultrapassada a fase extraordinária, e até Setembro, o combate aos incêndios vai envolver quase quatro mil bombeiros, de 449 corporações, com mais de 900 viaturas e também meios aéreos. No terreno estarão também as brigadas helitransportadas – grupos de bombeiros lançados na frente de fogo (ver caixa).
A decisão do Governo foi bem recebida pelas principais associações de bombeiros, segundo declarações de Duarte Caldeira, da Liga de Bombeiros, e Fernando Curto, dos Bombeiros Profissionais.
NOVAS REGRAS DE COMANDO
Os cargos de coordenador nacional e distrital de operações de socorro deverão ser alterados no âmbito de uma revisão da Lei Orgânica do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. Em ambos os casos, a estrutura vai passar a dispor de comandantes, nacionais e regionais, com mais competências, de modo a fazer face a incêndios de grandes dimensões. À semelhança do que sucedeu o ano passado e em 2003, os grandes fogos florestais ultrapassam, com frequência, os limites de uma corporação ou até do distrito, obrigando a que a coordenação de meios seja feita a um nível hierárquico superior.
FACTOS E NÚMEROS
OCORRÊNCIAS
Desde o início do ano e até às 24h00 de anteontem, foram registados em Portugal 2132 incêndios rurais florestais, 5336 fogos em terrenos rurais incultos e 1708 em terrenos agrícolas.
ANO TRÁGICO
O ano de 2003 foi o mais grave em matéria de incêndios desde 1980. Ao todo, arderam quase 426 mil hectares devido a 26.196 fogos. Vinte pessoas perderam a vida e muitas mais ficaram sem casa.
SECA EXTREMA
De acordo com dados tornados públicos pelo Instituto de Meteorologia, cerca de 80 por cento do território português apresenta níveis de seca severa ou extrema, devido à ausência de chuva do último Inverno.
ERROS SEM ANÁLISE
Domingos Xavier Viegas, especialista em incêndios florestais, considera que não foram analisados os erros cometidos no passado e alerta para o perigo de as medidas propostas para este ano serem ineficazes.
NEGLIGÊNCIA FATAL
Mais de metade dos incêndios florestais registados em Portugal resultam de negligência e só menos de 5 por cento têm origem em causas naturais, revelou esta semana um investigador da Polícia Judiciária. |
Autor: José Palha |
Publicado em: 23-04-2005 (1611 Leituras, Votos 342) |
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