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É fácil culpar os mortos |
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Os bombeiros reagiram mal aos resultados do inquérito do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) sobre a morte de quatro sapadores, em Fevereiro, quando combatiam um incêndio em Mortágua. |
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O relatório conclui que o carro onde seguiam estava mal posicionado, mas não esclarece quem foi o responsável pela movimentação da viatura.
O SNBPC revela que o ‘efeito chaminé’ resultante das condições climatéricas (vento forte e irregular) e geográficas (encostas íngremes), terão sido as causas do sinistro. Naquelas circunstâncias, “o posicionamento da viatura revelou-se inadequado”.
José Almeida, comandante dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, acredita “na competência dos inspectores” que elaboraram o relatório, mas não concorda “com alguns pontos”, salientando que agora “é fácil culpar os mortos”.
No mesmo sentido, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) entende que “acintosamente, este inquérito atira responsabilidades sobre aqueles que não estando vivos não podem testemunhar”, lembrando que “o posicionamento das viaturas no terreno é da responsabilidade do comando”.
Fernando Curto, presidente da ANBP, salienta que a colocação de meios no terreno “é da total responsabilidade da estrutura de comando e nunca do chefe da equipa, que só avançou depois de ter recebido instruções nesse sentido”.
“Se a viatura estava mal posicionada foi porque os elementos do comando no local deram uma ordem errada”, diz Fernando Curto, frisando que o relatório “não considerou na totalidade o depoimento de Rui Correia”, o único sobrevivente do grupo de cinco sapadores.
Para fazer uma investigação científica sobre as condições em que ocorreu o acidente, “evitando assim situações similiares no futuro”, o SNBPC vai criar uma comissão multidisciplinar constituída por quatro peritos.
Por seu lado, a ANBP anunciou que os bombeiros profissionais poderão obedecer apenas às directivas do respectivo comando, se o Governo não criar um comando único no âmbito do SNBPC, considerando uma “urgência reorganizar” o serviço.
QUEM DEU A ORDEM ERRADA?
A questão que se impõe e que o relatório omite é :“Quem mandou a viatura para aquele local?”. Para Fernando Curto, “no relatório subentende-se que foi o chefe da equipa (Adelino Oliveira)”. O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais refuta essa possibilidade “porque ele obedeceu a todas as regras e não desrespeitou qualquer princípio de comando”.
Esta opinião é também partilhada por José Moreira, comandante dos Sapadores de Coimbra, para quem o chefe Adelino Oliveira “era um bombeiro experiente incapaz de desobedecer à cadeia de comando”.
Joaquim Gaspar, comandante dos Bombeiros de Mortágua, que na altura comandava as operações no posto de comando montado no local do incêndio, e António Simões, dos Bombeiros de Penacova, que comandava a coluna de viaturas em que os sapadores de Coimbra estavam integrados, escusaram-se a fazer “qualquer comentário ou apreciação” sobre o assunto
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Autor: José Palha |
Publicado em: 24-03-2005 (1550 Leituras, Votos 347) |
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