Bombeiros Voluntários de Alcabideche




 

Falha humana em Mortágua

Investigação viatura apanhada pelas chamas estava mal posicionada dúvidas em aberto sobre gestão dos meios no terreno
Serão necessários vários dias para investigar as causas da morte de quatro bombeiros, anteontem, em Mortágua, mas são consensuais as opiniões de que terá havido falhas humanas. A grande questão é apurar com precisão a que nível da cadeia de comando, percebendo-se se falharam orientações da coordenação distrital (que dispõe, em teoria, dos dados mais completos em áreas como a meteorologia ou a geologia das áreas ardidas), do comando operacional ou da própria equipa sinistrada. A resposta deverá constar do inquérito lançado pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil.

Duarte Caldeira e Fernando Curto, respectivamente dirigentes da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) e da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), concordam que o acidente não pode ser considerado \"uma fatalidade\", mas antes um acontecimento evitável. Pedem uma investigação rigorosa, da qual sejam \"extraídas lições\".

Perante a evolução do fogo e a colocação da viatura dos Sapadores de Coimbra destruída pelas chamas, vários operacionais contactados pelo JN concordam que houve um erro operacional. Erro que o comandante dos Bombeiros Voluntários de Mortágua, Joaquim Gaspar (que na altura do incidente comandava a operação) admite, reconhecendo que a viatura atacada pelas chamas estava mal localizada. \"Estavam na cabeça do valeiro, alguns metros acima do desfiladeiro onde as encostas da floresta se encontram. E que, em caso de incêndio, funciona como uma chaminé\", descreve. O comandante dos Voluntários de Mortágua afirma-se de consciência tranquila, alertando que, no meio de 40 carros de combate ao fogo presentes em Vale de Paredes, \"estava onde devia estar\". \"É impossível, nestes casos, estar junto de cada uma das viaturas\", diz.

Há, contudo, dúvidas sobre as razões pelas quais a equipa se posicionou naquele local. O JN tentou, sem sucesso, contactar António Simões, dos Bombeiros de Penacova, que comandava a coluna de viaturas em que os sapadores de Coimbra estavam integrados, para saber se lhes foi dada alguma ordem nesse sentido. Contudo, elementos que participaram no combate às chamas garantiram que a equipa de sapadores decidiu entrar pelo estradão, a meia encosta, por sua própria iniciativa. O chefe de equipa, Adelino Oliveira (que perdeu a vida no incêndio), terá previamente percorrido parte do caminho a pé, decidindo depois avançar. Colegas de outras corporações dizem mesmo que o alertaram para a propagação das chamas, tentando demovê-lo.

Um relato dos acontecimentos que não convence Fernando Curto \"Só aceitamos essa versão devidamente comprovada\". O dirigente da ANBP lembra que o relato do quinto bombeiros da equipa, que ontem teve alta hospitalar (ver texto na página ao lado), será essencial para esclarecer o que realmente sucedeu. Mas exprime duas convicções. A de que Adelino Oliveira \"muito dificilmente desrespeitaria uma ordem\". E a de que tinha \"experiência suficiente\" para avaliar as condições em que se movimentava.

O chefe da equipa dos sapadores era monitor formado pela Escola Nacional de Bombeiros, tendo frequentado cursos específicos de combate a incêndios florestais. Ingrediente que torna mais difícil perceber uma eventual falha e reforça a necessidade de apurar o que de \"anormal\" e \"incompreensível\" - nas palavras de Duarte Caldeira - se passou em Mortágua.


De quem é a responsabilidade de investigar o que se passou em Mortágua?

A competência é do Gabinete de Inspecção do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, mediante um prazo estabelecido pelo presidente. Ontem, Manuel João Ribeiro disse apenas desejar que a investigação termine \"o mais rápido possível\".



No caso de ter havido falha humana, a quem poderão ser imputáveis responsabilidades?

Em determinadas operações a coordenação é feita a nível nacional, mas neste caso a responsabilidade foi distrital. Pode, contudo, ter havido falhas a diferentes níveis de decisão.



Qual era, na situação em concreto, a cadeia de comando?

À cabeça estava o centro distrital de operações de socorro (CDOS) de Viseu, seguindo-se o comandante operacional - no caso, o responsável da corporação de Mortágua. Há, depois, o comandante da coluna (da corporação de Penacova) e, finalmente, o chefe de equipa/viatura (Adelino Oliveira, uma das vítimas).



Como é feita a mobilização e articulação de meios?

A solicitação parte do CDOS da área atingida (Viseu) para CDOS vizinhos (Coimbra), que fazem depois avisos às corporações da sua área (tanto municipais como voluntários). No palco de operações, todas as corporações são integradas segundo as relações de comando indicadas.



Qual a formação dos bombeiros sapadores?

O ingresso na carreira, progressão e formação não está regulamentado. Os sapadores de Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém e Leiria têm feito a recruta na escola do Regimento de Lisboa (vocacionado para intervenção urbana), no âmbito de protocolos entre câmaras. Os cursos de promoção realizam-se na Escola Nacional de Bombeiros (associação de direito privado).

Autor: José Palha Publicado em: 02-03-2005 (1899 Leituras, Votos 361)
Imprimir    Enviar por e-mail    
Comente este artigo
Nome:  
e-mail:  
Comentário:  
   Desactivado temporariamente
 
 
 
 
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche
Optimizado para resoluções de 800x600.
© 2000 - 2007 Todos os direitos reservados.