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Bombeiros sem preparação para lidar com catástrofe

Especialista prevê que um maremoto na costa portuguesa provocaria o caos no Algarve e em Lisboa e defende a criação de um sistema de alerta
Portugal não está preparado para dar resposta a uma catástrofe de grandes proporções, como o maremoto que devastou o Sudeste asiático no domingo.

O alerta vem da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), que denuncia a «inexistência» de planos de emergência e apela à realização «urgente» de simulacros por parte das entidades da Protecção Civil.

Também Mariana Baptista, especialista em tsunamis, defende a implementação de um sistema de alerta semelhante ao que existe no Pacífico, e sem o qual será impossível minimizar o «caos».

Segundo Fernando Curto, presidente da ANBP, «há no País uma enorme ausência de planos para situações» desta dimensão e «não há articulação entre o plano nacional de emergência e os planos municipais» existentes.

Falhas que, aliadas à falta de meios, levam o responsável a prever para Portugal «um cenário não muito diferente» do vivido no sudeste asiático.

Mesmo em Lisboa, onde o regimento «é dos que está melhor apetrechado para responder a este tipo de situações», as consequências poderiam ser devastadoras.

É que caso esses serviços ficassem inoperacionais, não haveria bombeiros de outras zonas devidamente preparados para socorrer a população.

«Passamos o ano todo sem um teste ou exercício simulado. E numa profissão onde 75 por cento do trabalho é prático, que resposta posso dar?», questionou-se o responsável, defendo a realização urgente de simulacros.

Contactado pelo DN, o presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) admite que «muito há ainda a fazer».

No entanto, Manuel Ribeiro salienta que se está a trabalhar nesse sentido. «Em fase de preparação» está a formalização de um documento que dirá aos vários profissionais como actuar no terreno, perante situações de sismos.

Para isso, foi entregue em Novembro a todos os municípios e corporações de bombeiros estudos de caracterização de riscos sísmicos, de modo a traçar um plano que defina, por exemplo, as zonas de concentração de meios ou as vias para evacuação de pessoas para hospitais.

Questionado sobre se Portugal está preparado para dar resposta a uma situação destas, Manuel Ribeiro responde «Qual é o País que está?» Nesta altura do ano, «com grande concentração de pessoas nas zonas ribeirinhas», um tsunami na costa portuguesa seria «muito complicado». Mas, salienta, «se tivermos um protocolo que alerte o sistema de vigilância» - hipótese «já em análise no seio da comunidade científica nacional» - os efeitos poderiam ser minorados.

Como explicou ao DN Mariana Baptista, da Faculdade de Ciências de Lisboa, «houve uma tentativa do Centro de Geofísica da capital de implantar em Portugal um sistema de alerta semelhante ao que existe no oceano Pacífico».

No entanto, devido a problemas técnicos na comunicação com as estações sísmicas em terra, a iniciativa nacional acabou por ser abandonada.

O sistema de vigilância - cuja existência no oceano Índico teria evitado milhares de mortes na região - consiste na emissão de um aviso, assim que seja detectado «um sismo com magnitude superior a 6,5 na escala de Richter e epicentro no fundo do mar», isto é, as condições para a ocorrência de um tsunami.

O mecanismo, utilizado pelas autoridades japonesas e norte-americanas, possibilita a evacuação das populações das zonas de risco.

Apesar de a ocorrência de um tsunami ser «rara», Mariana Baptista não tem dúvidas de que a criação de um sistema de alerta se justifica em Portugal.

Mesmo com ele, assegura, um maremoto parecido com o que aconteceu no Índico deixaria um cenário de destruição «semelhante ao de 1755» (ver caixa), sobretudo nas zonas de Lisboa e Algarve, densamente povoadas.

É que, depois do alerta, há que resolver o problema do trânsito e dos meios para evacuar as pessoas.

Sendo uma das autoras do Plano de Emergência para Riscos Sísmicos da área metropolitana de Lisboa, realizado em 2001 - e sobre o qual pensa não terem sido feitos simulacros -, Mariana Baptista lembra a regra para quem esteja na praia e detecte uma «súbita e acentuada subida ou descida das águas do mar» fugir o mais depressa possível para as zonas altas. Uma precaução para a qual «a população não está sensibilizada».
Autor: José Palha Publicado em: 28-12-2004 (1662 Leituras, Votos 351)
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