|
|
|
Três mil bombeiros portugueses sofrem de stress pós-traumático |
|
ESTUDO CONTABILIZA 6% DOS «SOLDADOS DA PAZ» PORTUGUESES COM STRESS PÓS-TRAUMÁTICO E 35% ALVO DE ACONTECIMENTOS TRAUMATIZANTES |
|
|
Stress afecta três mil bombeiros Os bombeiros «pensam que todos os consideram heróis, que não podem dar parte de fracos. Por isso não procuram ajuda», explica uma das autoras do estudo PATRÍCIA NAVES Mais de três mil bombeiros voluntários sofrem de stress pós-traumático (PTSD) em Portugal, uma desordem que resulta sobretudo de experiências relacionadas com o combate a incêndios ou acidentes rodoviários graves. Segundo um estudo da Escola Nacional de Bombeiros, dos 35 mil bombeiros portugueses, cerca de 35% declaram ainda ter assistido, algures na sua vida, a um acontecimento traumático de perto - mais de 33% do que a população em geral. As conclusões estão inseridas num estudo levado a cabo por duas psicólogas da Escola Nacional de Bombeiros, Raquel Pinheiro e Fátima Fernandes. O documento, o primeiro sobre incidência do PTSD nos bombeiros em Portugal, parte de um estudo idêntico realizado à população geral em 2002, para fazer algumas comparações entre os bombeiros e população comum Assim, e segundo as conclusões do estudo da Escola Nacional, ao qual A Capital, teve acesso, os bombeiros são indivíduos que, por inerência à sua actividade profissional, estão permanentemente expostos a incidentes, à desorganização, confusão, cenários de destruição e, acima de tudo, rodeados de sofrimento e dor das vítimas. Por tudo isto, têm grandes probabilidades de se tornar vitimas secundárias. Além disto, são também indivíduos bastante autocriticos, que não se permitem falhar, pelo que a frustração e a culpabilidade contribuem também para estados de raiva e de stress. «Os bombeiros pensam que toda a gente os considera heróis, que não podem dar parte de fracos, ser homens comuns. Por isso muitas vezes têm problemas ou ficam marcados com algo e não procuram ajuda», explica a A CAPITAL Raquel Pinheiro. Tal é comprovado pelas diferenças entre a incidência de PTSD apurada quando se contabilizam apenas bombeiros que tomam medicamentos ou são psicologicamente acompanhados- cerca de 3% - e a soma desta com os bombeiros que não recebem qualquer tratamento - aqui a percentagem atinge os mais de 6% ostais 3 mil bombeiros em 35 mil. «Esta é a prova de que muitos não procuram ajuda, quando o deviam fazer», adianta a psicóloga. PARTIDA. Por tudo isto, para as autoras do estudo, este não é um ponto de chegada, mas sim de partida. «Foi identificado um problema sério para o qual as pessoas não estavam atentas, mas não se deve parar aqui. É preciso haver mais estudos, aprofundar a questão e as formas de a atacar», diz. Segundo as especialistas, um sistema de acompanhamento psicológico a nível nacional, com profissionais distribuídos regionalmente, e uma campanha de sensibilização para motivar os bombeiros a procurar ajuda podem ser os primeiros passos a dar. «Muitos acontecimentos tomam-se mais marcantes com o passar dos anos, quando não são tratados. Por isso, muitos bombeiros procuram refugio nas bebidas alcoólicas e sofrem de passividade e problemas em casa». Em resposta ao estudo, o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) já garantiu que está a desenvolver actividades de discussão de um Modelo de Intervenção Psicológica, que permita dotar o sistema com uma rede de apoio psicossocial nacional. Esta rede, com recurso a psicólogos e sociólogos integrados nos Corpos de Bombeiros, pretende num primeiro momento fazer a triagem de situações extremas, mas também apoiar acções de esclarecimento. O objectívo é de, já no início de 2005, ser criada a Rede de Apoio coordenada pelo SNB e descentralizada a nível distrital. |
Autor: José Palha |
Publicado em: 11-11-2004 (1475 Leituras, Votos 267) |
|
|
|
|