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Artigo de opinião-A prevenção dos fogos nas florestasPor

O assunto é muito complicado. A conjugação de factores e causas é indiscutível.
O tempo quente; a seca a suceder a uma estação molhada que faz crescer as ervas e os arbustos; a falta de humidade no ar; e o vento, não só a estimular os fogos, mas também a disseminar os seus focos.A propriedade privada de centenas de milhares de pequenas parcelas; a muito reduzida dimensão de área de floresta propriedade do Estado (pouco mais de 5 por cento do total, o que, em todo o mundo ocidental, é ridículo); a irresponsabilidade e a cupidez da maioria dos proprietários; a falta de eficiência dos serviços públicos nas matas do Estado; o comércio de queimados; e a actuação criminosa de alguns industriais e comerciantes de madeiras e produtos colaterais.O acesso difícil a inúmeras áreas; a falta de meios de transporte e combate; a preparação deficiente de muitos bombeiros; o inexistente ordenamento de florestas e de espécies cultivadas; e as grandes plantações industriais. A falta generalizada de limpeza das matas; a ausência de bocas ou de reservas de água eficientes próximas das principais áreas de floresta; e a insuficiência de guardas florestais e de outros serviços de vigilância. A justiça morosa; os tarados e pirómanos de todas as espécies; as vinganças entre vizinhos, proprietários, comerciantes e industriais; multas ridículas para quem não trata das suas florestas; penas insuficientes para os pirómanos; o Estado, num dos países que é menor a área de floresta pública, com medo de intervir nas explorações privadas; e a impossibilidade de expropriação punitiva de quem não trata bem das suas matas. O desprezo nacional pelas árvores; o atravessamento das florestas pelas estradas; a construção de estradas sem cuidados nem mecanismos de segurança; o descuido generalizado dos turistas, dos campistas e dos fumadores; as festas de aldeia, as romarias, os fogos-de-artifício e os arraiais. E mais... Por tudo isto, é sabido que prevenir e lutar contra os fogos demora tempo, custa muito dinheiro e necessita de planos e organização, tudo o que falta em Portugal. Sabe-se, por outro lado, que não há solução milagre: prova-o o facto de se verificarem incêndios de enorme dimensão também em países com outras condições ecológicas e muitos mais meios. Nos Estados Unidos, por exemplo, este ano, só num incêndio na Califórnia terão ardido mais de um milhão de hectares! Por todas estas razões, já se deveriam ter começado a executar planos sérios e constantes há muito tempo. Mas há uma coisa que me intriga: dada a complexidade da matéria, há pelo menos uma acção que pode ter resultados a mais breve prazo e pode diminuir a tremenda factura financeira, económica e ambiental e que consiste na vigilância. Não percebo por que razão não são contratadas, todos os anos, cinco ou seis mil pessoas para, entre Maio e Outubro, residir e vigiar as florestas, cabendo-lhes alertar os bombeiros e a polícia, assim como exercer uma função dissuasora. Por que razões não se construíram, renovaram e aproveitaram já uns milhares de casas de floresta e de montanha? Por que motivos obscuros não se organizaram adequadamente os serviços florestais com poderosos e eficientes meios? Façam-se as contas. Num período de dez anos, os custos com a vigilância de Verão e a construção ou recuperação de casas e refúgios de montanha e floresta seriam talvez inferiores aos que resultam apenas das operações de combate nas actuais dimensões. Sem contar, o que é muito mais, as perdas em património público e privado, os estragos no ambiente, a devastação da fauna e da flora, os bens, as casas, a matéria-prima e as vidas humanas. Gostaria que alguém explicasse a razão pela qual o Estado prefere poupar em prevenção, vigilância, combate e repressão, para gastar muito mais em perdas e danos...


Autor: José Palha Publicado em: 20-09-2004 (1480 Leituras, Votos 322)
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